A OPINIÃO DE DUARTE LEAL DA COSTA - CEO EDEGA ERVIDEIRA



É reconhecido que na última década o sector dos vinhos tem passado uma crise provocada por um excesso de produção mundial. Trata-se de um problema mundial e não de um problema regional do Douro, ou do Alentejo, antes sim da Austrália, Chile,… França, Itália e claro, Portugal também.

Associado ao excesso de produção, existe uma quebra no consumo mundial, com as camadas mais jovens a beberem mais cerveja (ou outras bebidas como o Gin) e menos vinho, bebidas estas que estão mais associadas a ambientes mais festivos, e o vinho um pouco mais formal.
Os dois fatores juntos conduziram a uma situação difícil.

A Ervideira não é única, mas trata-se de um caso diferente, produtores no Alentejo, mas contra as piadas de que este povo é lento, esta gente mexe-se, pouco mas mexe-se!!
Facto que mesmo em altura de crise, criaram novos vinhos de sucesso, alargaram o quadro de pessoal, criaram um novo clube de vinhos, apostaram em estratégias de proximidade com os consumidores e como resultados crescem 7% em vendas versus o período homólogo do ano passado.

A pior coisa que me podiam fazer era prenderem-me, pois parar e apenas chorar não é para mim. Se encontro uma dificuldade, a primeira coisa que me surge é a procura de uma solução, e esta crise há muito que estava anunciada, pelo que tivemos tempo para alterar estratégias, afinar novos rumos, e procurar soluções.
Claro que sinto a crise, isto não é um mar de rosas, mas nunca será um mar de espinhos!

É de extrema importância haver um bom stock mundial de álcool, tal facto foi bem notório durante a pandemia, em que não havia álcool suficiente para as necessidades, (o mesmo tendo acontecido aquando da gripe das Aves).

Por outro lado, esta queima, na verdade não é apenas Nacional, o mesmo acontece em outros países, estando mesmo a França a subsidiar o arranque até 10% da área total de vinhas .

Acresce ainda que o vinho é o produto alimentar com maior regulação do mundo, não existindo qualquer paralelo com outro produto alimentar, pelo que as intervenções Estatais terão que ser necessárias.

Por último, sabendo que Portugal tem uma produção de cerca de 700 Milhões de Litros, com um consumo de 500 e exportação de outros tantos 500 Milhões, tais factos mostram bem que Portugal não é autossuficiente em produção de Vinhos e tem por isso que recorrer à importação.
Então, onde está o problema do sector??

O problema é claro e todos os orgãos decisores ligados ao sector são conhecedores. Trata-se da excessiva importação ilegal de vinhos, que ocorre há mais de uma década. Este facto tem uma resoluçõa simple. Já que o vinho que é importado é naturalmente facturado pelos compradores em sede da AT, bastava que o Ministério da Agricultura reportasse e cruzasse os dados. Pois o vinho comprado em Espanha é facturado e reflete-se nas contas do comprador.
Ora se o problema é a proteção de dados, esta proteção não se deve dar quando um crime está à vista

Na minha opinião a queima de vinho pode ser uma situação pontual, mas o crime de prevaricação, adulterando origem de vinhos, deveria ser punido fortemente a bem do consumidor.